sábado, 5 de novembro de 2011

O SÁBIO E O DISCÍPULO

Certa vez um sábio, preocupado com o futuro da humanidade, consultou um oráculo e depois de ouví-lo, empreendeu uma jornada pela terra acompanhado de seu discípulo, afim de treiná-lo e assim poder ajudar o povo sofrido. Depois de muita caminhada e de muitas mazelas encontradas pelo caminho, o sábio quase fraquejando, sem poder ajudar muito as pessoas necessitadas, parou e refletiu as palavras do oráculo. Somente ele sabia quais eram e sentiu-se forte a caminhar. Ajudou da maneira que pode e tudo o discípulo aprendia e se encantava com a sabedoria daquele homem simples. Certo dia, ao anoitecer, não encontravam hospedagem e o dsicípulo interrogou onde passariam a noite. Sabiamente o homem procurou um lugar ermo. Encontrou uma família muito humilde de 11 pessoas. Um casal e seus nove filhos pequenos, muito sujos e necessitados. Dispunham apenas de um cazebre e uma vaquinha mirrada, nada mais. O sábio pediu-lhes hospedagem o que foi prontamente atendido. O chefe da família apressou-se em ajudar aqueles homens de bem, mas confessou que não tinha o que comer, pois o único bem que possuiam era a vaca e esta só dava um litro de leite por dia e servia para alimentar as crianças, de modo que ele não podia tirar delas. Acomodados, o discípulo tornou a interrogar o sábio sobre o que comeriam. Este nada disse. Novamente o discípulo interrogou o sábio sobre como poderiam ajudar aquelas pessoas. Então, o sábio ordenou-lhe que tomasse a vaquinha deles e a jogasse no precipício que havia na estrada. O discípulo olhou aterrorizado para o mestre sereno. Não questionou, pois compreendia o mestre e este sabia o que estava fazendo. Noite alta, o discípulo fez conforme as palavras do mestre: tirou a vaca e conduziu-a ao precipício, jogando-a. Cabisbaixo, voltou e deitou-se sem dizer nenhuma palavra, mas ficou observando o mestre dormir tranquilamente durante a noite. Sairam cedo antes da família acordar e seguiram viagem. Pouco tempo depois o mestre morreu e deixou o discípulo e seu legado. Aquela cena de anos antes não saia da cabeça do discípulo, agora mestre e este decidiu verificar o que tinha acontecido àquelas pessoas e quem sabe pedir-lhes o perdão. Mais uma vez tomou caminho e foi ajudando um e outro e quando deu por certa estava perdido e não encontrava mais aquela pobre família. Encontrou no lugar um lindo bosque, com crianças felizes, limpas e um casal feliz embaixo de uma árvore cheia de frutos. Resolveu se aproximar e perguntar pelas pessoas que ali moravam.
- Somos nós. Disse o homem acompanhado da mulher e dos filhos que cresciam felizes.
- Graças a Deus, apareceram por estas bandas dois santos homens e nos tiram nossa vaquinha.
O novo sábio chorou e pediu-lhes perdão. O homem continuava feliz e ponderou:
- Meu amigo, não se preocupe. Quando você nos tirou a vaca, ficamos tristes, mas depois compreendemos que podíamos fazer mais. Estavamos acostumados com o leite da vaca e isso nos impedia de prosperar. Você nos ensinou que não podemos ficar fadados esperando as coisas acontecerem, temos nós mesmos de fazer com que a coisas aconteçam. Sem a vaca procuramos outras coisas e melhoramos de vida. Muito obrigado.

Caro leitor, nesta parábola podemos compreender alguns personagens de Camocim. A vaca, a familia, o sábio, o discípulo, a pobreza, o bosque frondoso, o precipício, a agonia do discípulo, o povo sofrido, o oráculo... Quero propor uma reflexão tênue e uma 'identificação' sua com as passagens acima. Lembro-lhes que alguns deles já tem seus devidos donos.

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